Blog do Natinha (Jônatas Liasch)

07 maio, 2014

Sobre Sheherazade, Balas e Pauladas Perdidas

Uma troca de tiros entre bandidos e policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro, num domingo à tarde, deixou Vítor Gomes Bento, de oito anos, ferido gravemente na cabeça. Resultado: protestos dos moradores locais, depredação, ônibus incendiado.

Vou fazer uma afirmação que em nada é "politicamente correta". NÃO EXISTE BALA PERDIDA. O projétil que chamamos de "bala" e que foi feito para ser disparado por uma arma de fogo, possui um único fim, ATINGIR UM ALVO. Assim, se alguém em algum momento disparou uma arma, tinha como objetivo acertar um alvo. Se uma bala não acerta é por que simplesmente errou o que podemos chamar de ALVO PRIMÁRIO. Logo, acertará um ALVO SECUNDÁRIO, seja um muro, um automóvel ou a cabeça de uma criança.

Armas de fogo existem para matar. Quem atira, atira para matar. Quem treina nos stands de tiro, procura acertar o centro do ALVO, e se erra acerta próximo ao centro. A bala que atingiu o pequeno Vitor que agoniza num leito de UTI, não é perdida. Errou o ALVO PRIMÁRIO e acertou, como sempre, o ALVO SECUNDÁRIO.

A violência têm diversas fontes, mas essencialmente nasce da tentativa de impor-se em detrimento do outro. É quando tento ser mais que o outro. Mais ágil, mais esperto, mais rápido. Quando tento levar vantagem. Caim se impôs sobre Abel. Desse modo existe violência quando embico o carro na frente de alguém que estava estacionando na única vaga visível, ou quando, mesmo que por medo, saco a arma e atiro na direção do outro. Violência é quando decido ser mais que o outro, mesmo que esse queira justificar ser o que é e como é.

Quando moradores do Guarujá resolveram impor-se sobre a jovem senhora Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, na verdade fizeram com que prevalecesse a sua compreensão sobre quem e o que ela fizera - mesmo que fosse inocente. por que, afinal é o que ela bradou até não ter mais forças se não para gemer em martírio estatelada no meio da rua.

Nas cenas gravadas por moradores que consentiam com a barbárie é possível ver um homem dando uma "paulada" na cabeça de Fabiane. pergunto: teria sido uma paulada certeira ou uma paulada perdida. Se mirou na cabeça, acertou! E se errasse a cabeça, teria acertado o pescoço ou ainda, o próprio pé - dele, o agressor - ou a canela de alguém próximo. Mas e se quisesse somente machucá-la acertando-a no ombro mas, errando o ALVO PRIMÁRIO, acertou o ALVO SECUNDÁRIO - A CABEÇA.  Do que estamos falando aqui?

Violência é violência! Inclusive aquela que gente estúpida - falto de inteligência - como o senhor deputado Jean Wyllys que, arrogando-se defensor dos "direitos humanos"- não os de todos, mas de alguns humanos - procura enfiar, goela a baixo, num discurso politicamente correto sobre o qual constrói um aliciamento de ideias pessoais e interesseiras. Este senhor levantou-se contra a comentarista Raquel Sheherazade, do SBT, quando esta fez um comentário sobre um grupo de pessoas que prenderam um assaltante a um poste por correntes. Sheherazade afirmou "compreender a atitude dos moradores" uma vez que "o Estado é omisso, a polícia é omissa, a justiça é falha. O que resta ao cidadão de bem?".

Em artigo na Carta Capital o deputado se revela mentiroso e arrogante demais. Primeiro porque tenta induzir a opinião pública a fim de justificar seus projetos de cunho e objetivos particulares e restritos à uma, ainda que com direitos, obtusa camada da sociedade, fomentando idéias sobre o pretexto "politicamente correto" Segundo porque, neste afã, produz uma re-engenharia dos discursos dos seus opositores: Raquel Sheherazade nunca apoiou o linchamento como ele afirma no artigo. E por último concluir que não haveria o linchamento da moradora do Guarujá, meramente por que suas idéias sobre a "valorização da herança cultural africana nas escolas" não foram consideradas válidas, é tão raso quanto de uma prepotência absurda. Deveria envergonhar-se em aproveitar de casos dramáticos da história social brasileira para impor-se sobre os direitos dos outros.

É mais fácil pregar contra a "bala perdida" do que denunciar a violência em todos os seus níveis. É mais confortável esconder-se atrás do discurso politicamente correto do que dizer que a violência é resultado de políticas pífias de autoridades que perderam a legitimidade do poder quando se venderam à corrupção e imoralidade. É mais simples solidarizar-se através de um discurso otimista e denfensor dos fracos e oprimidos do que delatar a vergonha da realidade crua e visível. #naosoupoliticamentecorreto