Blog do Natinha (Jônatas Liasch)

22 outubro, 2008

Adoração Sensorial

Como poderíamos saber que a presença pessoal de Cristo existe sem que ao menos sentíssemos qualquer sinal dela? Somos treinados a “sentir” Jesus. Se houver emoção durante a liturgia, Deus esteve presente. Nossa adoração tem sido mais sensorial e performática do que contemplativa e relacional. Enquadramos Jesus no nosso protótipo de adoração. A maior parte das crenças sobre a adoração está fundamentada na sensibilidade da “presença” de Deus. A maneira como adoramos é que dá significado a existência de Deus, não o contrário.

A pergunta é: adoro a Deus ou a minha experiência com Deus? Adoro a Deus ou a idéia que faço dele? Se quero evitar uma abordagem narcótica à religião que me compele de uma experiência a outra na esperança de coisas maiores e melhores, devo saber no que creio à parte dos sentimentos agradáveis ou torpes que podem ou não acompanhar essa crença. [1]

Sentir a presença de Deus está mais relacionado a perceber a carência do irmão ao lado do que necessariamente notar uma manifestação mística no culto, ainda que esta seja possível e verdadeira. Sentir a presença de Deus é mais o reconhecimento da minha fragilidade e necessidade de Sua Graça do que tomar conhecimento de uma percepção alegórica num serviço religioso. Sentir a presença de Deus é saber que ele está presente mesmo que todos os meus sentidos não sejam acionados. Uma vez que Jesus disse: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20), ele de fato está presente mesmo que esses dois ou três sejam surdos, mudos, cegos, desprovidos de tato e olfato, tudo ao mesmo tempo.

A fé libertadora só pode se manifestar livremente fora das crenças que criamos em nossa prática cristã. A religação deve ser pela fé, não pelos modismos, padrões e sensações. Adoração deve manifestar-se pela fé e não pelas crenças denominacionais e práticas do homem. Depende muito da Graça, da alegria e da naturalidade de servir a Deus. É bem verdade que a ação direta de Deus pode provocar manifestações sensitivas em muitas circunstâncias. Negar isso seria anular os relatos extraordinários da Bíblia Sagrada. Entretanto saber diferenciar a manifestações legítimas de Deus das dramáticas impressões atribuídas à sua presença nos nossos rituais define uma verdadeira adoração.


[1] Alan JONES, Soul making: the desert way of spirituality, p. 177, Citado por Brennan MANNING, Assinatura de Jesus, p 112

02 outubro, 2008

Sim, diga não!

Dizer “não” tornou-se algo até mesmo imprescindível numa sociedade encharcada de mentiras e corrupção nos mais variados níveis sociais e culturais. Como se pode notar a história do dizer “não” começa na primeira idade. Somos apresentados à fôrma negativa do “não” ainda quando criança. E isso é resultado da educação transigente em excesso a que estamos sujeitos. Daí o reflexo na sociedade tão permissiva que vivemos.

O bom pai sempre tenta desenvolver em seus filhos um sentido de significado. Precisa dilatar aquele senso de responsabilidade sobre eles. Deve levá-los a um nível de maturidade e autonomia coerente à sua idade biológica. Para tanto alguns agentes são essenciais. Carinho, atenção e tempo de qualidade são primordiais. Um canal de comunicação constantemente aberto também ajudará muito. Entretanto, uma disciplina adequada e contínua será indispensável.

Estabelecer limites aos filhos é também uma desafiante arte. Colocar fronteiras claras e coerentes no comportamento das crianças evitará que se convertam em pequenos pára-raios de insegurança e tirania. Aí começa o desafio de dizer “não”. Todo pai é confrontado com a tentação de dizer “sim” na maioria das vezes aos filhos. É difícil vencer aquele rostinho em forma de piedade quando está dizendo em tom de choro: “ah, pai! Só desta vez!” Infelizmente, quando não vencemos este impulso indiscriminado de dizer “sim”, podemos estar interiorizando nas crianças que não existem limites, regras nem princípios que dão o “norte” para o comportamento humano.

Não estou afirmando que devamos ser rígidos e inflexíveis na tolerância. Por outro lado não podemos imprimir sobre os filhos uma imagem de paternidade autoritária. É natural que cada família exerça sua própria forma de educação de filhos. Contudo é muito importante saber discernir a diferença entre o “poder fazer” e o “não poder fazer”.

Dizer “não” é um grande desafio para nossa sociedade e esse exercício começa dentro de casa. Por mais estranho que possa parecer um simples “não” pode ser o agente propulsor de uma ação positiva. Um mero “não” pode se transformar num sólido fundamento para um profundo relacionamento entre as pessoas, inclusive entre pais e filhos. 

- extraído do livro "Sim, diga não!", sem edição, Jônatas Liasch (Natinha) -