Blog do Natinha (Jônatas Liasch)

10 fevereiro, 2011

Bib Brother, Richard e o Paredão

Curioso é o título de “reality show”. De “reality” quase nada, de “show” só o material editado. A sociedade pós-moderna habituou-se a encontrar refúgio para seus desassossegos na superficialidade do entretenimento da TV. É mais fácil se esconder nas doenças e paranóias dos outros do que enfrentar os conflitos pessoais e resolve-los. Fala-se muito sobre o comportamento humano exposto no programa. Contudo, tal exposição passa por articulações as mais bizarras possíveis, fazendo com que os relacionamentos da casa mantenham a audiência do show.

O Big Brother pode ser muita coisa, menos um show da realidade, a não ser que você aceite a realidade como algo induzido e programado. Se aquilo é real, não sei o que vivo aqui fora. A realidade do programa se resume ao fato de todos os personagens serem pessoas reais com identidade própria, não são fictícios. E acaba aí. Tudo o mais é plástico e dirigido para que os telespectadores acreditem que as situações dentro da casa sejam verdadeiras e espontâneas. É muito grande a crença de que as pessoas ali confinadas são realmente como aparecem no programa.

Há uma áurea de naturalidade na apresentação do programa. Mas tudo é pré-combinado. Desde a escolha dos protagonistas que, invariavelmente possuem físico atraente – homens “sarados” e mulheres “malhadas” ou siliconizadas até às roupas ou a ausência delas que também é algo trabalhado propositadamente. Exaustivas pré-entrevistas com os participantes ajudam a levantar as potencialidades e fragilidades de cada um, dando munição ao diretor bem como ao apresentador do programa munição para instigarem os “brothers” uns contra os outros.

E isso me assusta no Big Brother. Fico atemorizado com a possibilidade de ver aflorar personalidades ou atitudes ocultas e sinistras durante o período de confinamento. Quem pode garantir que alguém não se utilize do programa para criar uma fama proveitosa e descabida? Todos os que estão na casa estão plenamente cientes das implicações de seus atos? Estamos falando de uma audiência de mais de 30 milhões de telespectadores. O que um público desse pode fazer com a cabeça de um protagonista possivelmente desequilibrado?

Não, não estou exagerando. Veja o que aconteceu nos Estados Unidos, na segunda edição do programa, veiculada em 2001, o participante Justin Sebik foi expulso da casa depois que ameaçou a colega Krista Stegall. Os dois se beijavam na casa quando ele encostou uma faca em sua garganta e disse: "Você ficaria brava se eu simplesmente a matasse?" Stegall processou depois a rede de televisão CBS, que transmite o programa nos Estados Unidos. Alguns desses reality shows já provocaram assassinatos na América do Norte.

Agora, o que impressiona é o fato de ver algumas coisas acontecerem nesses programas: Os protagonistas tratados como objetos, uma manipulação indisfarçável de comportamento, a busca da fama a qualquer custo, cenas editadas tendenciosamente para privilegiar determinados concorrentes e contratos pré-assinados com revistas eróticas. Aliás, “pouca roupa” diz o escritor Carlos Lombardi “é norma, de 'Malhação' à 'Lost'. É uma tendência do mercado". Tudo isso é realmente nojento e mostra como a Televisão pode se transformar num instrumento de re-orientação de comportamento.

Assistir TV requer muita responsabilidade. É preciso saber separar o real do “reality”, a vida do show. A vida real impõe paredões todos os dias. Ameaças, invejas, raivas, ressentimentos, medos, ansiedades estão nos esperando a cada nova manhã. O “espelho mágico” dita regras para uma vida irreal. O que é real o é de fato. Não é de “plástica”, nem medido por audiência.

Para mim, o mais real de todos os “reality shows” é um programa produzido na TV Tcheca. Foram instaladas 16 câmeras que estão acompanhando continuamente a vida de um gorila macho de nome Richard, três fêmeas e um filhote em uma área que inclui "aposentos" e um "jardim" dentro do zoológico da capital, Praga. Pelo menos ali não se impressiona ou obriga os concorrentes a fazerem o que o diretor ou o patrocinador quer. Quem vai ter coragem de colocar Richard no paredão? É, o mundo real ainda existe e chama a atenção.