Blog do Natinha (Jônatas Liasch)

01 agosto, 2008

Debaixo da Ponte da Adoração

Não podemos crer, que a missão evangélica, por mais necessária e, em muitos casos, apaixonante que seja, possa ser exercida sem critérios e referências. Para evangelizar, o cristão apaixonado ousa o ‘impossível’, faz qualquer coisa, rompe e destrói paradigmas, mesmo que tudo isso não seja legítimo ou comprovado e sustentado pela experiência histórica cristã ou ainda, pelas Sagradas Escrituras.

Hoje, no ambiente evangélico, por exemplo, se vêem práticas e mutações comportamentais, as mais peculiares. Existe uma tendência exagerada no meio, de trazer, de tempos em tempos, novos modos de comportamento. Essa mania de “modificar” – trazer modismos, tem determinado muito mais a conduta na igreja do que propriamente a prática das doutrinas cristãs. São muitas teologias e doutrinas que, convenientemente querem afirmar a maneira como o cristão deve se comportar.

Na música não é diferente. Parece que existe um padrão no “modus operandi” da liturgia musical. Às vezes, tenho a impressão que em determinados eventos, cultos ou shows, existe somente uma única maneira de “ministrar” aquilo que chamam de “louvor”. Não raramente vejo “ministrações” que parecem ter saído da mesma fôrma. Tem gente que imita, literalmente, até os sussurros de certas cantoras. Outros há que falam a mesma frase, com a mesma entonação, no mesmo momento, da mesma música, numa clara tentativa de se fazer passar pelo ministro famoso que a criou. Quantas imitações, plágios, clonagens e afins. Na verdade, por vezes, não parece que estou num evento em meu país. Muito mais parece que estou em um show nos Estados Unidos da América, Austrália ou Canadá.

Não. Não estou exagerando. Bem vindo ao mundo cristão/gospel/musical. Lugar onde tudo é possível; até gravar a música de outro artista sem pedir a autorização para tal e sem pagar os devidos direitos de uso da obra. Lugar onde se cria o modo certo de adorar a Deus e o impõe a toda a categoria de “levitas do Senhor”. Lugar no qual o deus mamom[1] tem uma grandíssima influência nas decisões ministeriais.

Por outro lado, acontece muita coisa boa no meio da música cristã brasileira. Tem gente que leva muito sério sua vocação ministerial. Existem grupos, bandas, artistas consagrados, do ponto de vista da espiritualidade tangível e contagiante. Há igrejas que pastoreiam músicos. Há músicos que se deixam ser pastoreados e discipulados. Conheço gravadoras que fazem contratos justos com seus artistas bem como os honram integralmente. Mas nem tudo é tão bom assim.

Existe um fio de pureza e graça nas fontes do louvor com música. Entretanto também existe água turva correndo debaixo da ponte da adoração musical. É bem plausível que o leitor estranhe alguns exemplos citados em meu livro sobre o que existe no ambiente da música cristã brasileira. Contudo não é meu propósito apontar erros e acertos para este tema. Meu maior desejo é apresentar um relato experimental das possibilidades construtivas para uma vida de louvor e adoração com a música. Gostaria de adentrar os sinuosos caminhos da música e de sua história para então aprender mais do que Deus tem preparado para aqueles que o amam, ou seja, coisas novas e que ainda não chegaram aos nossos sentidos (1 Co 2.9).



[1] Nome dado por Jesus à força ou entidade ligada ao uso descontrolado do dinheiro (Mateus 6.24)