Blog do Natinha (Jônatas Liasch)

03 julho, 2009

MIKE

Posso entender porque algumas pessoas desrespeitam a vida. Mas não consigo aceitar que de fato o façam. Quando ídolos morrem se transformam em mártires automaticamente. Estamos sempre dispostos a trocar a biografia de uma carreira de sucesso e glamour por e uma vida de vícios, exageros e delitos, contanto que o ídolo continue sendo nosso herói. Os fãs deviam ter acesso à vida de seus artistas preferidos mais que a seus currículos. Pena que não querem.

Para aqueles que adoravam sua carreira e sua música, a perda de Michael Jackson é temporária, mas para aqueles que o amavam como pessoa – e quanto a isso foram poucos – seu desaparecimento é irreparável. Pessoas como Renato Russo, Cássia Eller, Elvis Presley e o próprio Michael têm mais em comum do que serem músicos de sucesso. Possuem uma excelente carreira, mas uma trágica história. Viciados em remédios ou cocaína, viveram suas vidas mostrando-se ao mundo e escondendo-se de si próprios. Num certo momento seus mais íntimos horrores os alcançaram e os mataram.

Quanto ao Michael, o rosto plastificado e embranquecido tentava esconder um menino com uma enorme baixa-estima fruto de um forte sentimento de rejeição. Aceito pelo planeta inteiro, perseguido pelo pai e abandonado por si próprio, Michael projetava sua segurança na inocência da infantilidade, numa clara tentativa de manter-se alheio ao mundo da pressão e da correria. Queria sustentar a identidade infantil e criou um mundo de “faz de conta” onde era proibido crescer e integrar a realidade da vida amadurecida. Neverland, ou “Terra do Nunca” era o paraíso para onde corria a fim de se isolar da cobrança do ambiente crescido.

Por um lado um grande Midas que transformava em ouro tudo que tocava. A popularidade de seus vídeos musicais transmitidos pela MTV, como "Beat It", "Billie Jean" e "Thriller" são creditados como a causa da transformação do vídeo musical e também de ter tornado o então novo canal famoso. Intermináveis cirurgias plásticas, acusações de pedofilia, gastos exagerados em futilidades, descumprimento de acordos comerciais e a ganância pelo dinheiro transformaram sua carreira artística num amontoado de achincalhamentos e desperdícios.

Quanto a mim, lamento a morte de um grande artista que influenciou tremendamente minha geração de músicos. Por outro lado, choro pelos que se perdem num processo de psicotização progressiva e que não conseguem encontrar saída para o sofrimento. Sinto-me culpado por sua morte Mike. Sinto por não ter falado mais sobre sua doença interior. Sinto por ficar, muitas vezes à mercê da minha incapacidade de vencer meus próprios conflitos, sabendo que posso me psicotizar tanto quanto você. Sinto por minha geração que idolatrou gente virtuosa e competente, mas doente da alma.

Mas uma coisa é especial em tudo isso. Fica escancarada a verdade do valor do homem em relação ao mundo que vive. Nada! “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8.36)