Blog do Natinha (Jônatas Liasch)

09 maio, 2011

ENTRE O REAL E O IDEAL, O MUNDO DE WELLINGTON


Como professor e pastor sempre me preocupei em oferecer uma educação que atingisse em primeiro lugar o coração das. Uma educação que começa no coração atinge tudo o mais. Uma educação que promove a construção do caráter em primeiro lugar é fonte para uma transparência nas atitudes. E é esse comportamento que parece não estar mais presente e no mundo em que vivemos.
O que aconteceu com o ser humano que não corresponde mais aos impulsos da informação que recebe durante a vida. Claro que falo de uma ciência que forma, que diferencia o bem do mal, que dimensiona e distingue os valores da verdade e da mentira, que aponta caminhos de esperança e forja uma identidade ajustada para o convívio social. Uma informação que se transforma em conhecimento e que, por fim, promove experiência transformadora.
Isso me faz pensar na diferença entre o real e o ideal. Há um mundo real e há um mundo ideal. No primeiro estamos inseridos em tudo o que se vê e no que se vive de fato. É nesse mundo que parece que o mal impera, os desastres alcançam os lugares mais remotos, guerras, fome e ira prevalecem. No segundo mundo sonhamos, acreditamos, temos uma fé inabalável no ser humano e na sua capacidade de superação. É claro que os dois são verdadeiros e são experimentados por todos nós.
O mundo real que vivemos não representa a terra ideal com que sonhamos. Tenho a impressão de que vivemos como que com um pé em cada mundo, mas o corpo fica num espaço entre os dois. Numa espécie de buraco negro, num limbo existencial. Às vezes pisamos mais firmes sobre um mundo e depois sobre o outro. Ora estamos no mundo ideal no qual alimentamos a esperança na raça humana, nos valores do bem, nas atitudes construtivas, nos afetos e atenção mutuas. Ora estamos no mundo real, onde o mal impera, a corrupção controla os desejos, a mentira e ódio emergem e os assassinos entram numa escola para matarem e serem mortos.
Paradoxalmente, o mundo do Welington era o do ideal, mas do ideal somente para ele. Da fantasia, não do sonho. Da utopia não da ideia. Da alienação e da perspectiva que exclui os outros. Um mundo de ilusão onde o ideal era o que para ele, e somente para ele tinha importância. O Welington encarna a capacidade de sermos exatamente aquilo que não queremos. Não pense que você e eu não seríamos capazes de fazer o que ele fez. Estamos apropriados das mais bizarras atitudes, mas somente alguns é que as levam a cabo.
Não é possível acreditar que não possamos vencer o mundo real e alegremente produzir o ideal. Podemos sim vencer o mundo do medo que as crianças do Realengo sentiram ao verem o revolver na mão do Wellington. Mas também podemos sim sonhar os sonhos que habitavam a mente daquelas mesmas crianças, minutos antes do matador entrar pela porta da sala de aula. O mundo ideal pode ser real. Pela fé e pelas convicções. Pela esperança e pelas atitudes. Pela persuasão e pela realização. Pela oração e pela ação.
Se o mundo que vivo é o real, então preciso vencê-lo, mas não com qualquer vitória. Preciso da “fé que vence o mundo” (1Jo 5:4) Então enfrento o problema diário, as questões difíceis no relacionamento conjugal, as perseguições e alterações drásticas de humor bem como as tentações e provações, as mais variadas em intensidade e duração. E tudo isso com a mais forte convicção de que “posso todas as coisas” (Fp 4:13), inclusive passar por qualquer situação e me sentir fortalecido por ela. Preciso da fé como a de João ou Paulo, não das crenças com as quais Wellington se alimentou.
Se o mundo que eu vivo é o ideal, então preciso sonhá-lo, mas não com qualquer imaginário. Preciso ser como aquele para quem disseram “vem lá o tal sonhador” (Gn 37:19). Alguém que foi desacreditado pelo que sonhou, mas por cujos sonhos Deus realizou algo inesperado e abençoador para muitas nações. Eu continuo sonhando com o mundo ideal onde a dor e os sofrimentos serão matéria prima de alegria e esperança, e não mais fonte de trauma e frustração. Preciso de sonhos como os de José, não de fantasias com as quais Wellington se alimentou.
Viver entre dois mundos é escravidão. É acordar todos os dias com a expectativa de que algum desastre em algum lugar vai alcançar alguém. Viver entre dois mundos é não acreditar que mesmo sonhando as coisas vão melhorar. O matador viveu nesse limbo, fez o que fez, terminou como terminou. Eu tenho de viver no mundo real, mas não serei escravo dele. Nele vou imprimir minha esperança do mundo ideal, da vida ideal, da fé ideal. Vou sonhar, vou crer. Enfrentarei o sofrimento real com a esperança ideal. Ainda acredito na humanidade. Ainda tenho fé em Deus.